domingo, 27 de outubro de 2013

MADELEINE E PIERRE- PRIMEIRO ENCONTRO








     Fiquei muito tempo sem entrar em contato com o espírito de Madeleine. A Terra pede outros compromissos e alguns problemas nos impedem a concentração. No entanto, não costumo me afastar dos meus compromissos mediúnicos. Em primeiro lugar porque aprendi essa regra com meu pai kardecista há mais de cincoenta anos. Os bons espíritos tem muita disciplina e tudo o que fazem na Terra tem um motivo sublime.

   Aos poucos , separei os textos de Madeleine para que sua história não se perdesse e tivesse um lugar próprio. Escrever sobre histórias de amor sempre foi um prazer para mim. Desde a adolescência sou procurada para aconselhamentos amorosos. O amor entre duas pessoas é um ensaio para o amor universal. Sou apaixonada por essas histórias e sempre fui muito feliz no amor. Sempre fui muito amada e, por esse motivo, me interessei pela história de Madeleine.

   A música é um vício benigno. Amo música e ela entorpece meus sentidos carnais e abre minha visão espiritual. Se eu pudesse ouvia música o tempo todo. Mexe com todos os meus sentidos. Abre minha clarividência. Os bons espíritos se aproveitam desse canal para excitar minha clarividência.

 A música é uma droga poderosa e pode ser a salvação da humanidade. A música é a linguagem do Universo. A música é a minha paixão!


       


 Madeleine me disse: " Você demorou muito!" Estou aqui .- respondi. E estava pronta para continuar sua linda história de amor.

 Ela se aproximou mais e continua sua história. Vestia um vestido cor de creme. Um lindo véu encobria seu rosto e seus traços perfeitos. De repente, me senti no seu cabaré onde a bela mulher continuou sua história.

 "Pedi champanha e fiquei encolhida em minha mesa mas aqueles olhos negros me observavam com curiosidade. Era o acompanhante fixo de Marie. Por mais que eu tentasse ser sua amiga o que conseguia eram olhares de desdém e inveja. Diziam as meninas da Carlota que Marie era apaixonada por Pierre. Eles tinham um caso ou seja ela era sua cliente fixa. Carlota tratava Pierre com mesuras e gentilezas, afinal, Pierre era rico e adorável gentleman.

 Um senhor gorducho se aproximou da minha mesa. Pediu para me acompanhar no champagne. Eu aquiesci.Não me sentia disposta aquela noite. Meu organismo estava diferente. Enjôos frequentes me atrapalhavam todas as manhãs. Tinha receio de estar grávida o que não era permitido naquele cabaré. Eu me lembrava perfeitamente de uma noite de chuva. Estava muito triste e bebi demais. Só me lembrei de estar ao lado de um estranho em minha cama. Não houve amor, mas apenas o cavalgar de um cavalheiro aloirado e de sorriso fácil sobre meu corpo. Minha cabeça rodava demais e nem percebi se ele usava codon ou preservativos. Estava numa fase perigosa. Os remédios mexiam com a pressão sanguínea e fazer amor por dinheiro atormentava meu corpo e minh'alma. 

   No dia seguinte, a cabeça martelava e pulsava.Era o anúncio de uma enxaqueca que me deixou acamada por várias semanas. Trabalhei mesmo assim. Ficar muito tempo doente não era muito bom. Precisava pagar as dívidas. Guardar dinheiro embaixo do colchão.Pensar num futuro mais digno e longe daquele lugar. O cabaré era uma fábrica de vida fácil, mas o que esperar dos anos de menopausa e velhice?Nossos corpos eram marcados pelo tempo da Terra. O mais lindo sorriso era marcado pelo passar dos anos. O rictus das facies marcava o tempo. Marcava a idade. Marcava o sofrimento.

    O senhor gorducho desistiu de mim. Duas moçoilas fizeram sinal e ele correu para elas. Queria uma noite apimentada! O can can excitava os corpos! As pernas das dançarinas excitavam os homens. A bebida corria à solta pelas mesas de toalhas vermelhas. 

    Pierre me olhava de soslaio. Estava numa mesa com muitas mulheres. Só vi sua roupa elegante, os olhos escuros  e penetrantes. Marie havia subido para o quarto com um cliente estrangeiro. Pierre ria e me observava. Sua taça de champagne estava sempre cheia. Não aparentava mais do que quarenta anos. Bigode e cavanhaque. Um sorriso fácil. Olhar penetrante que me encantava. 

 Eu me surpreendi com sua presença ao meu lado. Fez um gesto polido e pediu para se sentar. Eu aquiesci. Mal me aguentava. Pensava na possível gravidez. Pensava na minha vida. Passado. Orfandade. Pierre me olhou com aquele olhar negro e bondoso. Naquele momento, ele me conquistou.

Nossa conversa soou agradável. Seu timbre de voz era bonito e sensual. E, naquele momento, fiquei totalmente excitada. Momento especial. Queria aquele homem para mim! Ele me eletrizou completamente com suas palavras amáveis. No entanto,a bebida alcoólica pode transformar qualquer sapo em príncipe. Convidei-o para subir. Carlota estava de olhar fixo em minha mesa. Sorriu confiante!

 Meu estômago estava embrulhado. As pernas bambas. Pierre me ajudou a subir as escadas. Pierre percebeu que eu havia bebido demais. Foi gentil e cavaleiro. Ele me ajudou a tirar o espartilho. Vesti a camisola com dificuldade. Senti o cheiro daquele homem. Uma febril necessidade de fazer amor invadiu todo meu corpo. Pierre me beijou com paixão. O beijo encaixou na alma e no corpo. Despertou a minh'alma. Abriu as cortinas do coração.

Puxei-o de encontro a mim numa sofreguidão e meu amor veio à tona! As almas gêmeas tem um código que sinalizam o reencontro. Naquele momento senti que o tempo todo ele era todo meu e eu era dele. Nada iria nos separar. 

Depois do beijo ele acariciou meu rosto. Adormeci no meu sonho de amor. A linguagem não era sexo mas seu hálito perfumado e o cheiro...de perfume amadeirado que jamais esqueci. O desejo do meu corpo era febril e estimulado pelo álcool.  Pierre não tirou seu terno preto e, ne muito menos, suas botas pretas e muito engraxadas. Alisava seu bigode e observava meu decote arfando de desejo. No entanto, eu estava tão bêbada que tudo parecia girar à minha volta. 

"- Faça amor comigo, Pierre! Você terá que me pagar!"- minha voz estava enrolada. Os olhos fechavam e abriam... A camisola creme colava no meu corpo cheio de desejo. Pierre acariciou meus cabelos e sussurrou:

-"Você é linda! Quero você! Linda jovem de olhos tristes! Eu volto!"-beijou-me delicadamente e se despediu. Abriu a porta do meu quarto. Eu adormece feliz e satisfeita. Ou quase... Acordei no meio da noite com o cheiro do seu corpo  e do perfume amadeirado. Estava completamente apaixonada!

Madeleine

Música do talentoso pianista: John Sokoloff.




















domingo, 18 de agosto de 2013

Pierre entra na vida de Madeleine( III)












   O espetáculo da vida é o amor! A vida na Terra é muito difícil, mas cheia de surpresas. A matéria pode ser uma grande ferramenta para a evolução, porque através dela nos esquecemos momentaneamente de encarnações passadas. É um novo tempo para renovar a vida. Entramos em contato com novas pessoas, mas na verdade, são espíritos também encarnados que já conhecíamos de outras vidas. O véu está parcialmente encoberto. 

  Durante o sono, certas lembranças podem voltar. O irmão pode ser um grande amigo de outras eras. A mãe problemática pode ter sido aquele amor que você abandonou sem motivo. O amigo ingrato  um inimigo de outras eras. Inimizade que você mesmo provocou por conta do seu comportamento egoísta.  A mãe dedicada um espírito que você ajudou em outras vidas. No entanto, quando você está encarnado poderá fazer outras amizades. Aumentar seus afetos. Fazer amigos e o esquecimento de outras vidas será muito providencial.

   Sei que agora o véu das vidas passadas pode ser descoberto por conta de terapia de regressão de vidas passadas. Os mentores siderais vêem esses novos caminho com certo cuidado. Se a pessoa não estiver preparada para relembrar suas encarnações  pode se tornar um embaraço e, não, uma libertação. Se for bem orientada por um profissional  capacitado pode curar e amenizar fobias, traumas e algumas doenças. O progresso vem de acordo com o merecimento do ser humano ou seu preparo para se utilizar novas ferramentas.

   Essa encarnação foi proveitosa  embora muito sofrida. Errei muito, mas é por causa disso que ela sempre vem à tona. Reencontrei na Terra meu grande amor. Pierre.Nós nos reencontramos na França no cabaré da Carlota.  Ele era um pouco mais velho do que e  mais evoluído. Em outras vidas, sempre fui apaixonada por ele, mas sempre o abandonava. Tinha sede de poder e usava os homens para ter muito dinheiro. Aproveitava a minha beleza física para manipular e enganar os homens. 

   Nessa encarnação como prostituta aprendi bastante. Já havia conseguido alguns progressos numa encarnação como noviça. Vivi muito pouco, mas passei a minha vida num convento de freiras. Elas eram muito exigentes; sofria castigos horríveis, mas precisei dessas lições. Aprendi a rezar um pouco, mas sempre fui uma pessoa revoltada. Nada estava bom para mim, porque certamente, relembrava as encarnações de beleza e poder. Como noviça minha vida era um quarto escuro e frio. Sem cortinas e sem beleza. Solitária. Meu corpo era frágil. Meu rosto era comum. Os cabelos muito curtos me davam a aparência de um menino. Gostava dos meus olhos porque eram muito vivos. Aos vinte anos, contraí pneumonia. Desencarnei após alguns dias de febre alta. As irmãs oravam por mim. Pediam que eu me arrependesse dos meus pecados. Meu único pecado era a revolta e a vontade de fugir daquele lugar solitário e cinza. Voltei ao mundo espiritual um pouco mais humilde. No entanto, a fé ainda era muito fraca. E a autoestima estava longe de me alcançar. Jamais assumia meus erros. Isso custou ao meu anjo de guarda muito trabalho.

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 Alguns espíritos reencarnam na mesma época, mas não podem ficar juntos. Ou porque já assumiram compromisso com outra pessoa na Espiritualidade ou  não há possibilidade de reencontro. O destino não favorece e os obstáculos são variados.

 O amor entre duas almas é muito complicado na Terra, mas não deveria ser. Acho que a gente complica muito, porque ainda é imperfeito. Os defeitos mais grosseiros são aqueles que nos escravizam...Amor é libertação.

 As almas passam por várias experiências. E alguns espíritos que se amam podem vir para viver vários tipos de amor: amor de mãe para filho, amor de irmãos, amor de amigo, amor fraterno, enfim, experiências para que o espírito experimente o amor de diversas formas.

Queremos amor e ninguém vive sem amor! Amor pelas criaturas, pelos animais, por uma causa ou ideal.

   Jamais esqueci o dia em que Pierre entrou na minha vida. Cada moça tinha seu próprio quarto naquele casarão. Não havia muito luxo, mas era confortável. Carlota arrumava tudo com muito esmero. As cortinas eram de veludo vermelho escuro e a cama muito macia. Havia também uma mesinha e tínhamos toalete privativa.

Antes de subirmos para o quarto a gente ouvia boa música. As bebidas servidas no cabaré eram muito caras e os homens gostavam de beber. 

   Eu não queria descer naquela noite. Minha cabeça doía bastante e estava muito indisposta infeliz e desanimada. Marie entrou no meu quarto e me olhou de soslaio:

– Precisa descer, Madeleine! O bar está cheio! Pensa que é especial, não? - ela ironizou. Não havia alternativa. As moças tinham que trabalhar todas as noites. Carlota só nos dispensava quando estávamos muito doentes. E, no início da semana, tínhamos descanso. Dormíamos muito. Eu sentia muito sono.   Marie mordiscou o lábio superior e deu um passo de dança. Fez uma pirueta e me disse”:

   - Pierre voltou! Ele sempre me escolhe! Quero ser exclusiva, porque ele tem muito dinheiro. – Marie sorriu com malícia. Eu me lembrei do homem misterioso que sempre ficava na sua mesa. Quando ele chegava Carlota o tratava muito bem. Pierre era um homem alto, magro, de cabelos e olhos muito escuros. Tinha bigode e barba cerrada. Parecia educado e de sotaque diferente. Eu não conseguia parar de olhar para ele. Sentia um arrepio gostoso percorrer minha espinha. Quando Pierre sorria, uma covinha surgia na sua bochecha esquerda. Ele bebia muito pouco, mas sempre estava alegre. Subia para o quarto com mulheres bonitas. Marie sempre era a escolhida e eu comecei a ficar com ciúmes. No entanto, meu comportamento era sempre discreto. Pierre me olhava de soslaio. Uma vez, me deu uma piscadela. Marie parecia notar nossos flertes.

 Esqueci o mal estar e coloquei um vestido azul de veludo  que era comprido, mas muito bonito. Escovei meus cabelos castanhos enquanto me olhava no espelho da penteadeira. Passei carmim nos lábios.

  Quando eu desci a música já havia começado. Alguns músicos tocavam uma música muito linda. As meninas bebiam com os homens e falavam alto. Carlota olhou fixo pra mim quando eu desci. Ela conversava sozinha com Pierre numa mesa. Ele vestia um casaco muito bonito marrom. Sua pele era bonita e os olhos sorriam. Os olhos amendoados eram divertidos, mas a boca fazia um rictus que endurecia um pouco sua expressão. Eu sentia que Pierre tinha um drama em sua vida. 

Marie conversava e bebia com um homem alto que falava com sotaque forte. Ela ria muito  e olhava para Pierre. Meu coração deu um salto! Pierre olhou para a escada enquanto eu descia. Sorriu para mim e sua covinha apareceu. Marie olhou para mim com ar de censura. Saiu da sua mesa e foi até Pierre. Ela segurava uma taça de champagne. Riu e ofereceu bebida a ele. Pierre agradeceu, mas continuava em pé. Carlota e ele falavam animadamente.

 Eu escolhi uma mesa. Sentei-me de modo discreto. Jaime, o garçom colocou vinho em minha mesa. Marie passou por mim e virou o rosto. Estava acompanhada de um senhor baixo e de barriga saliente. Era o conde Louis, um homem muito rico. O casal subiu para os quartos. Eu estranhei que Pierre não preferiu a companhia de Marie. As mesas estavam cheias de homens e cortesãs. Eu gostava de ouvir tango. Comecei a bebericar vinho. Pierre e Carlota se aproximaram de mim. Carlota estava mais amável. Esse comportamento não era muito freqüente. Ela sussurrou:

“- Querida Madeleine, Pierre deseja ficar na sua mesa.- Pierre olhou para mim com ternura. Meu coração começou a pular e as mãos ficaram frias. Fazia algum tempo que não era virgem. Fazer amor com os homens era penoso para mim. Quando estava com eles na penumbra no meu quarto odiava minha mãe. O ódio chegava a doer. Minha alma doía de ódio e revolta!”.

    Carlota se levantou e foi para os seus aposentos. A noite estava movimentada no cabaré.

     Eu já havia conhecido muitos homens. Alguns eram generosos e pagavam bem. Outros eram grosseiros e estúpidos. Estava conseguindo guardar algum dinheiro. Uma regra do cabaré: não se apaixonar. 

        Senti o perfume discreto de Pierre. E, também seu olhar penetrante e envolvente. Amei-o desde o primeiro instante!


 Madeleine

segunda-feira, 29 de julho de 2013

A vida no Cabaré








     Carlota era uma mulher muito estranha e misteriosa. Seu humor mudava como as fases da lua. Ninguém sabia sobre seu passado.  Administrava muito bem o cabaré. Adorava jóias e roupas caras. O cabaré era um lugar muito alegre e havia boa música todas as noites. Lindas bailarinas. Joseph , um senhor calado e discreto tocava o belo piano de cauda. As risadas entoavam das mesas onde as mulheres sorriam. Os lábios de batom vermelho acompanhavam um olhar malicioso. Os homens tinham que beber bastante e gastar no bar. Depois, subiam as escadas onde a madrugada os esperava. Eram homens novos, solteiros, casados. Ricos ou pobres, mas desde que tivessem boa moeda para gastar no cabaré. A crise no país se espalhava. A situação do país não era boa. 

   Meu relacionamento com Madame Carlota era aparentemente bom. Bastava seguir todas as suas ordens. Contrariar a madame era ter uma inimiga. Meu objetivo era juntar dinheiro e ter minha própria vida mesmo com a marca de ter sido cortesã. Carlota administrava nossos ganhos e boa parte ficava com ela. Sabia justificar sua porcentagem. As mulheres tinham boa alimentação e quartos confortáveis. No entanto, não havia liberdade. Uma liberdade suspeita e vigiada. 

  Nossos passeios eram controlados. Saímos do cabaré acompanhados por Breno e Louis. Eram homens troncudos e mal falavam. Carlota justificava que estava cuidando da nossa proteção. Na verdade, as meninas praticamente viviam num regime de semi escravidão. A senhora afirmava que estava ajudando as pessoas, porque a maioria das jovens que lá viviam eram muito pobres. E, quando estivessem maduras, poderiam seguir o caminho delas, mas não era isso que eu presenciava. Uma mulher sem família, sem dote, sem nome, não tinha muito futuro naquela época. 

   Fiz amizade  com Vivian uma linda jovem de vinte anos. Ela era muito bonita, de olhos castanhos e cabelos escuros que caíam lisos até à cintura. Tínhamos muita coisa em comum: o desejo de viver uma nova vida e sair daquele lugar.

 Vivian se apaixonou por  um jovem bonito e alto. Ela me contou que eles combinaram  fugir juntos. Allan tinha olhos vivos e um jeito encantador. Dava boas gorjetas para Carlota e bebia muito no cabaré.

 As meninas contavam que ele era um ladrão muito esperto. Diziam que ele era mentiroso e falso. 

 Uma manhã, procurei Vivian em seu quarto  e não a encontrei. Fiquei feliz por ela. Carlota ficou muito nervosa e revoltada com a fuga. Seu rosto frio mudava de expressão quando perdia uma jovem. Vivian era muito jovem e belíssima. Durante algum tempo, o ambiente do cabaré ficou diferente e estranho. Cochichos. Segredos. Ninguém sabia o paradeiro da bela Vivian.  Teria seguido com seu amor? 

 Não tive mais notícias de Vivian. Dias depois percebi o ambiente muito tenso e as  meninas muito alvoroçadas. Marie segredou:

 "- Vivian está morta! Foi encontrada morta numa estrada e estava machucada!" - Marie também gostava de Vivian.

 "- Mas e Allan? Eles iriam se casar, Marie!” - senti uma dor no peito muito forte. Marie afirmou:

"- Não sei! Ela fugiu com um ladrão! Aqui tinha tudo! Ouvi dizer que Allan foi embora para muito longe e nem veio buscá-la.” - eu abaixei a cabeça. Carlota ouviu nossa conversa:

“-Meninas, vocês não sabem o que pode acontecer quando saem daqui! O mundo é mau! - seus olhos brilharam. Eu mudei de assunto!  ”.

 Jamais esqueci Vivian e, nas minhas preces, orava por ela. Será que a bela Vivian tinha sido assassinada pelos bruta montes Breno e Louis? Por que tamanha covardia? O assunto foi comentado durante alguns meses. A polícia estava investigando a morte misteriosa da bela mulher. Ninguém reclamou seu corpo.

  Aprendi muita coisa no cabaré: como atrair os homens, ganhar mais dinheiro e evitar filhos. Uma gravidez no cabaré? Nem pensar. Havia uma mulher que aparecia sempre quando uma cortesã "adoecia." Uma jovem morena de apelido Bella começou a ter enjôos frequentes. Ela sempre ficava no bar com Lino, um homem casado. Ele tinha muito dinheiro e gastava muito no cabaré. Bella se apaixonou. Éramos educadas para trancar o coração. Lidar com sexo era uma coisa; amor era proibido. Como trancar o coração? Bela começou a ouvir as promessas do seu amante. Carlota estava preocupada. Alguns homens queriam se deitar com ela, mas Bella rejeitava. Uma noite, Carlota conversou com Lino. E, no final, fizeram um trato. Bella era somente de Lino desde que ele pagasse muito mais por ela. Bella ficou muito feliz! Seus olhos negros brilhavam. Esse brilho sinalizava a paixão de uma mulher. Eu sentia arrepios! Jamais me apaixonaria por homem nenhum. Mal sabia que o amor estava prestes a acontecer na minha vida. 

 Bella ficou grávida de Lino. Não queria perder o nenê. Queria ter o filho do seu amado Lino. Contou para ele. No dia seguinte, ela desceu as escadas com o rosto sombrio e os olhos inchados. Lino nunca mais apareceu no cabaré. Bella chorou semanas seguidas. As promessas se transformaram em desilusão. 

  Mesmo assim, queria ter o bebê, mas Carlota não concordou. Afirmou que o cabaré não era lugar de crianças. Bella fez um aborto. Adoeceu semanas seguidas. Teve depressão! Pensei que ela iria morrer, mas não morreu. A dor transformou sua alma. Seus olhos românticos adquiriram um brilho diferente. Os lábios bem feitos nunca mais sorriram. Tentei me aproximar dela, mas Bella se fechou para a amizade também. Era muito procurada no cabaré. Sabia cantar muito bem e encantava os homens com sua voz rouca e sensual. Um dia, um homem calvo e elegante apareceu no cabaré. Sentou-se sozinho a uma mesa. Bebericou uísque. Fumou cigarrilhas e ficou apreciando a voz maviosa de Bella. Horas depois, ele procurou Carlota. Foram para o escritório. 

   No dia seguinte, Bella desceu as escadas. Havia um sorriso no seu rosto triste. Ela iria partir. Conseguiu um contrato para cantar. Quando chegou no salão se despediu de todas. O homem elegante apareceu para buscá-la. Fiquei contente por ela! Meses depois, fiquei sabendo que Bella cantava em óperas e cafés luxuosos. 

     No entanto, a sorte das mulheres da vida era marcada por um prazer falso e muito sofrimento. Algumas jovens afirmavam que gostavam do que faziam. Gastavam seu dinheiro em jóias, roupas e bons perfumes. Adoravam encantar e seduzir os homens. Amavam a bebida e a boa música. No entanto, beleza e juventude não duravam para sempre. Elas afirmavam que não pensavam no futuro. Eu pensava e muito. Alguns anos se passaram. Eu era uma bela mulher. Meus cabelos cresceram e meu corpo adquiriu belas formas. Atraía muitos homens, mas não gostava de beber. Marie sempre me observava. Nada fiz para ela, mas  vivia me perseguindo. Gostava de fazer intrigas a meu respeito. Tinha inveja. Gostava de se vestir como eu. Invejava minha popularidade no cabaré. Eu tratava a todos com muito respeito desde a velha cozinheira até o jardineiro. Esse era meu jeito. 

 "-Madeleine, está fazendo sucesso com os homens!- comentava Marie. -Quando chegou aqui parecia uma menina boba e sem graça.-não revidava seus comentários maldosos. No entanto, o destino estava só começando a escrever minha história. O ódio de Marie só podia vir de outras vidas. E, não era por acaso, que ela estava naquele ambiente. Precisávamos resgatar alguma coisa. 

  Quando eu morava com minha mãe tinha muito fé nos santos e em Deus. Via minha mãe rezar o terço. Gostava muito quando ela nos chamava para rezar o terço. Ela rezava antes das refeições. Nossa casa era muito limpa e agradável. Minha mãe era tudo para mim. Essa decepção deixou marcas no meu coração. Não a perdoava de jeito nenhum. Eu tinha um terço nos meus guardados, mas jamais rezei. Perdi a fé em Deus. Se minha própria mãe me abandonou o que poderia esperar das pessoas? Nada. 

 Gostava de passear no bosque do cabaré. Fazia passeios  e contemplava a natureza. No entanto, sempre que eu saía para dar caminhadas me sentia seguida. Quando olhava para trás, lá estavam Breno e Louis. Ficavam de longe me observando. 

 A solidão é muito difícil. Não tinha amigas no cabaré. Era uma disputa febril pelo homem mais rico, por mais clientes e por mais popularidade. Marie sempre  observava a minha mesa. E  achava um jeito de fazer intrigas contra mim. Carlota sempre me chamava a atenção. Insistia que nossa função também era fazer os homens gastarem muito no bar. E como eu não apreciava bebida alcoólica tudo ficava mais difícil.  Comecei a beber.

 Minha mãe me contou que meu pai bebia muito e , por causa disso, ele foi embora de casa. A lembrança do meu pai era vaga e distante. Lembro-me de um homem que sempre aparecia em casa, mas não morava com minha mãe. Ela sempre o agradava com boa comida. Eu não gostava dele.Chegava sempre alcoolizado  e me pegava no colo. Não gostava do seu cheiro. Minha mãe queria que a gente o tratasse bem. Meu pai não tinha dinheiro, porque gastava tudo em bebida. O máximo que ele fazia por nós era trazer um fardo de fubá, batatas e milho. Às vezes, ele trazia carne também. Era tão raro comer carne!

  Um dia, ele apareceu muito bêbado em casa. Quebrou o pouco que tínhamos. Houve uma discussão muito acalorada. Minha mãe chorava e gritava. Nós ficamos no quarto. Eu tremi tanto que fiz xixi nas calças. E, pela primeira vez em minha vida, senti muito medo do meu pai. Era um medo tão forte que fiquei muitos dias sem dormir. Quando eu dormia sonhava com meu pai me batendo. Ele nunca havia batido em nós, mas aquela briga foi inesquecível. 

 Beber no cabaré era um suplício para mim. No entanto, não exagerava. Bebia apenas para acompanhar o cliente.

  E minha vida seguia...Até que Violet apareceu!

Madeleine



quinta-feira, 18 de julho de 2013

Madeleine- II



  




         Quando minha mãe me deixou no cabaré eu era praticamente uma criança. Meus seios  formados. Eu era uma mocinha que gostava de brincar de bonecas no quintal da minha casa. Não tinha muito conforto. Dormíamos no mesmo cômodo, mas não faltava o que comer.



            Eu era a mais bonita dos meus irmãos. Nunca mais os vi. Meu irmão mais velho saiu de casa para arrumar trabalho. Disse que voltaria para ajudar minha mãe, mas nunca mais voltou.



          Aquele primeiro dia no cabaré marcou minha vida profundamente. Deixou marcas nas minh’alma. Ressentimento. Ódio. Dor. Abandono. Mãe é tudo. Mãe é um pedacinho de Deus na Terra. Antes de partir minha mãe me beijou. Eu me agarrei às suas saias e chorei muito. Gritei e chorei enquanto Carlota olhava com ar impassível. Seu olhar era frio e quase irônico. Ela saiu um pouco e voltou com doces e balas. Tentou me distrair e conversou comigo. Foi o tempo necessário para minha mãe ir embora para sempre.

      

           Chorei dias seguidos. Enquanto era muito nova ajudava nos serviços caseiros. Carlota me agradava demais, mas eu chorava todas as noites. Queria estar em casa com minha boneca de pano. Carlota dizia que eu me transformaria numa linda mulher. Marie era a queridinha de Carlota. Era sensual e de olhos grandes e vivos. As outras moças eram muito bonitas e jovens. Gostavam de cantar e passavam a manhã toda dormindo.



        Durante a noite, o cabaré se transformava. Os homens chegavam e ocupavam as mesas. As mulheres gostavam de se vestir de vermelho. Algumas fumavam muito. Bebiam também. Carlota pedia que eu ficasse no quarto. Eu achava que estava protegida e segura, mas Marie me explicou tudo. Contou que aquele lugar não era um parque de diversões. E, quando eu estivesse  adaptada teria que agradar os homens.



      E alguns anos se passaram. Minhas formas ficaram mais definidas. O meu cabelo cresceu. Os meus olhos continuavam perdidos e o coração muito triste. Perguntava sobre minha mãe e ninguém sabia onde ela estava. Tentei fugir, mas foi em vão.



     Meu coração era puro e meu corpo também. E a ideia de me deitar com os homens me dava asco e medo. Não sabia como minha mãe conseguia dinheiro para nos sustentar, mas nunca a vi fazendo nada de errado. De vez em quando, ela voltava para casa com uma sacola de mantimentos. Havia uma vizinha que nos ajudava muito. Por que ela me abandonou? Onde estavam meus irmãos?



    Agora, se eu pudesse conversar com todas as mulheres que vivem na prostituição me sentiria aliviada. Vender o corpo custa a paz d’alma. No entanto, às vezes, o destino leva algumas mulheres para esse caminho. Algumas almas femininas são puras, mas caem nessa vida. O dinheiro pode vir rápido, mas é um caminho perigoso e cheio de atalhos. E, nem sempre, esses atalhos são floridos.



      Os espíritos desencarnados trabalham muito no plano espiritual. Agora, de vez em quando, posso ir para a crosta terrena. Minha mentora espiritual Adele vai comigo. Posso ajudar em algumas tarefas. Uma noite, descemos na crosta terrena. O ambiente espiritual da Terra é muito penoso. O ar me sufoca. A lembrança vem. Fui levada a um prostíbulo próximo a uma favela. O lugar era escuro e feio. Entrei e Adele me explicou o que íamos fazer.



    Uma jovem muito bonita estava deitada numa cama. Ardia em febre. Parecia muito doente. Estava com doença sexualmente transmissível. Havia contraído AIDS por conta da prostituição. Não usava preservativo. Fazia quase vinte programas por dia. Vivia na rua até ser encontrada por um cafetão. Seu rosto  macilento, cabelo era ralo, mas bem loiro. Adele me explicou que nossa função era inspirar algumas mulheres do cabaré para internarem a moça. E foi o que tentei fazer. Havia um pedido da mãe dela que já estava no plano sideral.



   Eu me lembrei da minha juventude no cabaré ao me deparar com aquela moça. Vou chamá-la de Maria. Ela abriu os olhos e soltou um grito. Estava tão fraca que seu espírito estava parcialmente desligado da matéria.



  - Fantasmas! Fantasmas!- gritava. Eu comecei a chorar de compaixão. Adele explicou que eu devia me controlar para que pudéssemos ajudar a pobre moça. Alguém entrou no quarto. Era um homem muito forte e de barriga saliente. Senti hálito de bebida alcoólica. O homem resmungou:



  - Morre logo, sua puta! Morre logo porque está nos causando problema. – Adele impôs as mãos sobre ele. O homem colocou a mão no peito e pensou:



 “- Estou com mal estar. Que sensação ruim! Para de gritar, sua vagabunda! - ele gritou e saiu do quarto. Na hora senti raiva daquele cafetão. E, novamente, Adele me censurou:



  - Está aqui para ajudar e, não para julgar quem quer que seja. – eu engoli meu pranto.



  - O que vamos fazer, Adele? – perguntei preocupada. Maria fechou os olhos e se encolheu na cama. Adele me pediu para segui-la. Rapidamente chegamos à cozinha do prostíbulo. Uma senhora gorda e baixa lavava pratos e cantarolava baixinho. Era mulata, mas tinha uma vibração suave. Adele se aproximou dela e murmurou:



  - Maria precisa ir para o hospital! Ajude-a! Eu sei que você gosta dela! Sei que seu coração é bondoso!- a senhora parou de cantarolar. Ela não viu nossa presença, mas imediatamente foi até o quarto da jovem Maria. Sentou-se à sua cabeceira e colocou a mão na destra da moça:



  - Maria, você está ardendo em febre! Tem emagrecido muito! Oh, meu pai Oxalá, o que eu faço? – Adele novamente a inspirou. A cozinheira voltou para o salão. Aproximou-se do cafetão e murmurou algumas palavras. Adele e eu ouvimos tudo:



  - Mauro, Maria está morrendo! Por favor, chame uma ambulância! Se ela morrer aqui você terá problemas com a polícia.



  - Cozinheira burra, volte para seu trabalho!- o som estava muito alto. Alguns homens riam muito e bebiam. O ambiente estava muito ruim. Enquanto todos bebiam, alguns espíritos ficavam por perto. Eu estava sufocada. Queria ir embora.



  O brutamontes concordou.  A ambulância foi chamada, mas antes o homem desligou o som. Pediu que todos fossem embora. Alguns homens protestaram, mas se afastaram.



  Ele fechou o salão com as cortinas. E a casa parecia uma casa comum. A safadeza daquele homem me deu náuseas. As mulheres se trancaram nos seus respectivos quartos. Tudo era muito escuro , cheirava a mofo e cigarro.



  Fomos juntas com Maria na ambulância. Eu me senti aliviada. Pensei como seria bom se ela morresse, pelo menos teria paz. Adele percebeu meus pensamentos e me corrigiu:



  - Ela vai se tratar. Não vai partir agora!

  

  Maria foi internada. Pediu que chamassem o pai dela. Dias depois, um senhor bem magro chegou ao quarto de hospital. Ficou assustado ao ver a aparência da sua filha única; magra, pálida e fraca. Os dois se abraçaram e choraram muito. Maria fugiu de casa para ir para a cidade grande. O pai morava na roça. Maria tinha sonhos de grandeza e tudo o que conseguiu na sua empreitada foi uma doença grave, pobreza e decadência.



  Vinte dias depois, Maria teve alta do hospital. Pai e filha voltaram para a roça. Maria precisava tomar muitos medicamentos.


  Seis meses depois, Maria faleceu de pneumonia. Nós fomos buscá-la. Nossa missão foi cumprida. 

Madeleine


Obs: O roteiro da história será mantido, mas Madeleine está aperfeiçoando o texto. Ela me disse que é um treino para novas histórias. Ela gosta de ilustrar cada texto com música.

sábado, 13 de julho de 2013

Madeleine e sua história- Cap.I





   Meu nome é Madeleine e estou no plano espiritual há muito tempo. Os mentores  explicaram que  preciso aprender mais para reencarnar  na Terra. Não esqueço e nem perdoo quem me fez mal. E, com a ajuda da médium, gostaria de contar  minha vida pretérita em Paris, na França.

    A lembrança de vidas pretéritas é um processo muito individual que depende em parte  do merecimento espiritual, da evolução do espírito e do motivo. Quando desencarnamos passamos por um processo de adaptação à nova vida no plano espiritual. E, nem todos os espíritos estão preparados para saber o que foram em suas vidas pretéritas. O véu só é tirado por um motivo muito nobre ou por um processo de cura espiritual. Ou então, um processo natural de um espírito evoluído ou arrependido.

  As encarnações mais difíceis e sacrificiais podem ser as mais meritórias e das quais o homem evolui mais... E, nem sempre, ser um homem importante na Terra significa uma vida brilhante. Alguns espíritos tropeçam diante do poder. Outros diante das tentações da matéria; facilidades materiais, inteligência ou beleza física. E, nem sempre estão preparados para lembrar dos seus erros. Preferem voltar a Terra ainda embalados pelo segredo e pelo véu da obscuridade. 

 Tivemos muitas vidas e assim reencarnaremos até chegar à perfeição. "Há muitas moradas na Casa do meu Pai"- afirmou Jesus. Alguns espíritos reencarnam em mundos mais evoluídos e outros em mundos mais imperfeitos. A Terra é considerada um planeta de expiação. Espíritos evoluídos e missionários se misturam a criminosos, doentes, psicopatas. 

  Creio que, um dia, a Terra será um planeta de regeneração onde almas afins poderão viver com tranquilidade e cumprindo missões mais sublimes. Aí, o sofrimento não será mais necessário e nem a morte. As pessoas podem partir para outros planos siderais sem precisarem se afastar dos seus entes queridos.

 Quando desencarnei fiquei muito perturbada mas fui socorrida por irmãos espirituais abnegados e evoluídos. Fiquei sabendo de algumas vidas pretéritas e, na maioria delas, falhei  bastante. Não houve muito progresso. Utilizei mal meu livre arbítrio e abandonei minha família. Só pensei em mim mesma. Estava revoltada e muito triste. Agora, me sinto mais aliviada. 

 De acordo com minhas vidas pretéritas de facilidades e muita beleza concordei em voltar. Soube que seria arrancada de minha família muito cedo, mas quando na Terra, tudo fica mais difícil. E também que reencontraria um grande amor do passado. Era um homem que sempre fez parte de muitas encarnações. Meu amado, minha alma gêmea. No entanto, ele também tinha sido desprezado por mim mas havia me perdoado. Eu estava aflita para voltar a Terra e me sentir melhor. Tive permissão para escolher o local, mas os detalhes da vida em Paris foram negados. Alguns espíritos missionários, evoluídos ou maduros podem opinar sobre suas futuras encarnações.

   Aprendi a dar valor à vida mas em várias encarnações cometi suicídio. Às vezes, por simples capricho, outras por ter a alma perturbada. E, por conta disso, tive reencarnações muito curtas onde aprendi a dar mais valor à vida. Deus não castiga; nós colhemos o que plantamos. Até nossa forma física em cada encarnação é trabalhada em cada detalhe. Tudo com o objetivo da melhoria espiritual e da nossa felicidade. Não falo da felicidade efêmera dos caprichos realizados mas daquela que ninguém vai tirar: a felicidade do dever cumprido, o êxtase do amor e da fraternidade. E a paz que ninguém consegue comprar com dinheiro. O espírito endividado e arrependido não tem paz. Enquanto, não conserta seus erros através da reencarnação pode ficar séculos perturbado ou triste. Cada espírito tem seu merecimento. 

  Qualquer avanço espiritual é premiado com encarnações mais meritórias e felizes. Alguns espíritos são tão endividados que perdem o livre arbítrio. Reencarnam em corpos muito doentes com cérebros limitados. Ou até numa vida vegetativa. Mesmo assim, um dia o espírito se livrará da matéria grosseira e conquistará sua liberdade no mundo espiritual. 

   O sofrimento nem sempre é expiação. Algumas almas voltam a Terra para ajudar um ente querido. Voltam por amor. E o sofrimento vem por conta desse amor renúncia que nem sempre é reconhecido. E o que pensa ser uma vida penosa pode ser para espírito um grande aprendizado. O médium Chico Xavier foi um espírito missionário. Veio a Terra para amar, aprender e cumprir sua missão. Se esse grande espírito sofreu não foi por revolta mas sim por conta do seu aprendizado espiritual. E eu acho que esse espírito era muito evoluído e, talvez, precisasse acertar algumas continhas na Terra. Agora, se eu pergunto o destino dessa alma abençoada preferem silenciar. Chico Xavier deve estar num plano muito feliz e merecidamente. No entanto, as grandes almas só ficam felizes quando amam e quando ajudam o próximo. 

  O ser humano em evolução precisa sofrer para aprender a viver, mas nem sempre isso acontece. Não nascemos para sofrer , mas sim para aprender. A Terra é uma grande escola de aprendizado!

   Não tenha receio da vida. A vida na Terra é uma nova chance para amar e ser feliz. Fazer os outros felizes. Aprender cada vez mais e galgar aos poucos a escada da evolução espiritual. Se você encheu seu caminho de pedras através do ódio, do egoísmo terá que retornar. E, plantar flores onde jogou pedras. Enxugar as lágrimas daqueles que você prejudicou. 



  Reencarnei na França e falhei novamente. Sim, aprendi bastante principalmente sobre o amor humano entre homem e mulher. No entanto, voltei para cá muito aflita e triste. E o que me revolta um pouco é não poder ver e nem saber sobre meu grande amor Pierre que também está desencarnado.

   Aos poucos, vou contar minha história nesse blog mediúnico. Será um processo de aprendizado entre mim e a médium. Trata-se de um aprendizado perseverante. Sempre que for necessário vou refazer os textos. Tudo sob a orientação do meu protetor espiritual. Ele é sábio; eu ainda estou aprendendo.

 Eu era muito pobre quando vivi na França.Minha mãe teve muitos filhos e jamais conheci meu pai. Quando  eu completei quatorze anos  ela me levou a uma casa muito bonita. Jamais esqueci o aroma da casa: um perfume forte, mas agradável. Um casarão cheio de música com uma escada muito limpa. Mesas com toalhas vermelhas e um ambiente à meia luz. Os perfumes da casa ficaram na minha memória. Provocam nostalgia e um pouco de sofrimento. Foi um local onde sofri e, ao mesmo tempo , conheci meu grande amor.
 
 Uma senhora de sorriso simpático abriu a porta do cabaré. Percebi que minha mãe já a conhecia há muito tempo. Conversaram bastante e minha mãe segredou no meu ouvido:

"- Você vai ficar aqui durante algum tempo. Carlota vai cuidar de você!"- minha mãe caminhou em direção à porta enquanto duas lágrimas escorreram do meu rosto.

    Eu  já sabia que tipo de lugar era aquele. Dona Carlota foi gentil comigo e me levou para um quarto. Lá estava ela, Marie, uma linda jovem de olhos verdes. Devia ter pelo menos uns vinte anos, mas seu olhar era de uma jovem experiente. Seria minha companheira de quarto,mas quando a vi senti um forte arrepio. 

  Jamais me esqueci da dor e da saudade de me separar da minha família. Éramos muito pobres, mas eu queria todo mundo junto e feliz. A fome grassava. A miséria estava passando muito perto  da nossa casa . Minha casa tinha cheiro de lenha e de madeira. Dividia o quarto com meus irmãos.  Gostava da companhia dos meus irmãos e da minha querida mãezinha. Pensava em trabalhar, mas naquela época tudo era mais difícil para uma mulher pobre e sem nome importante. Sem dote. Sem partido para se casar. 

 Não me lembro direito quando fui para o cabaré, mas era muito nova e virgem. Acho que minha mãe fez um negócio. Acho que ela me vendeu. Até agora não consigo perdoar ou compreender... Quando me lembro dessa encarnação sofro muito, mas estou contando minha vida por causa de um objetivo nobre. Meu protetor espiritual disse que, através dessa história, muitas pessoas poderão aprender a viver, a amar e a ter esperança no futuro. 

   Minha mãe havia me levado para uma casa de prostituição. Chorei dias seguidos; tentei fugir mas não consegui. Não saía do meu quarto. Tentei me matar, mas Carlota mudou o tratamento comigo. Ela afirmou:

- Você vai morar aqui agora e precisa pagar sua comida e sua moradia. E, larga de ser boba, menina, os homens pagarão muito bem por uma jovem bonita como você! Sua mãe saiu da cidade. Jamais a verá!- seu olhar estava frio e duro. Parei de chorar e me sentei na cama. Senti o gosto salgado das lágrimas que escorriam pelo rosto. Implorei:

"- Posso lavar o chão, cuidar da casa, Dona Carlota! Por favor! Não quero me deitar com um homem"- a mulher sorriu  e alisou meus cabelos  compridos. (Nessa encarnação, Madeleine tinha as madeixas escuras, mas quando a vejo são são de um loiro escuro. Cabelos finos e muito lisos.-nota da médium*)

 - Sua beleza tem que ser preservada, menina!Engole o choro. Marie vai lhe arrumar roupas novas. Sua vida vai mudar desde que seja esperta. Marie vai lhe explicar tudo!- explicou a senhora enquanto arrumava o cabelo preso num coque.

  Minha vida mudou completamente. Vestia roupas  lindas e logo comecei a chamar a atenção naquele lugar.]Minha primeira vez com um cliente foi muito ruim. O homem tinha um olhar estranho e pensei que fosse me machucar. Seus olhos eram frios e brilhantes. Não falou uma palavra. Foi tudo muito rápido. Lembro-me que ele me disse:

 "- Paguei muito para ser seu primeiro homem! Você é linda, mas precisa aprender muito ainda."- falou em tom malicioso. Saiu do quarto e fechou a porta atrás de si. Passei a noite toda chorando muito. E a partir daquele dia comecei a pensar numa fuga. No início, perguntava da minha mãe e dos meus irmãos. Carlota dava de ombros. Falava qualquer coisa. Pedia que eu me esquecesse da minha família.

 Depois da primeira noite, a adolescente frágil e medrosa morreu para os sonhos. Os anos foram passando  e fiquei muito tempo sem ter notícias da minha mãezinha. Meu objetivo era juntar dinheiro e sair daquele lugar.

  Eu tinha muitos clientes, mas Marie começou a mostrar sua verdadeira personalidade. Era muito invejosa, mas eu aprendi que era mais esperta do que ela. Sofri muito até descobrir que haviam pessoas muito más no mundo. Parei de rezar e acreditar em Deus! Comecei a odiar minha mãe! Enfim, tudo o que tinha de bom dentro de mim havia morrido. Precisava me defender para viver naquele lugar.

No entanto, agora estou aprendendo que Deus não nos abandona jamais!

E, naquela noite de lua cheia conheci Pierre... e tudo mudou...

Volto para continuar a história....


Madeleine

Madeleine e o novo blog




  Um dia, navegando em meu próprio blog tive uma certeza insólita: meu blog de espíritos estava quase uma bagunça. Não era proposital, mas como acompanhar uma história de amor? O internauta fica meio confuso no meio de tantas mensagens espíritas. Meu objetivo no blog VIDA VIVA era de um blog somente com mensagens psicografadas, na hora! 

 Madeleine começou a me aparecer e se queixou. Tive a ideia de fazer um novo blog só para ela contar sua história. Na verdade, esse blog é uma espécie de treino para algum livro posterior. Eu sou movida pelo prazer. Para fazer alguma coisa tem que me dar prazer. No entanto, os espíritos são organizados e metódicos. Se eles contam uma história real é porque levam a sério. Não gostam de brincadeiras. Gostam de disciplina. 

 E, com meus parcos recursos de html vou tentar reorganizar a história dessa bela mulher chamada Madeleine. E, com isso, aprender também.

 O convívio com os espíritos desencarnados é um prazer para mim. Eu me transporto para outros mundos. Não é obrigação, mas o faço com prazer, sem nenhuma pretensão.

Queridos internautas, aqui vai ser o blog do espírito da Madeleine. Os posts com a sua novela serão passados para esse blog. 

Assim, ficará mais fácil de navegar e acompanhar a história.

Madeleine apareceu a primeira vez para mim quando eu lavava louça em casa. A água me transporta para outras paragens. Vi o espírito de uma jovem que tinha em torno de vinte e poucos anos de idade. Era clara, de cabelos castanhos e olhos vivos castanhos claros. Ela sempre me aparece de véu , mas sua energia é serena e a vibração muito positiva, embora muito triste.

 Ela me contou que está no plano espiritual e viveu uma linda história de amor em Paris. No entanto, não sei determinar com exatidão em que época aconteceu essa história. Madeleine me disse que vivia em Paris num cabaré administrado por uma madame chamada Carlota.

Contar uma história espírita através de um blog não é fácil. No entanto, ela quer assim e assim vai ser!

O outro blog continuará para outras psicografias.

Aqui é o espaço da bela mademoiselle Madeleine!

Obs: nesse vídeo criado por mim - o início da sua história.